Há muito tempo que Inês queria uma bicicleta. Pedia-a frequentemente à mãe. Como não tivesse muito dinheiro, a mãe dizia-lhe que, quando tivesse menos despesas, lhe compraria a bicicleta. Ficou entusiasmada. Falava da bicicleta que iria ter a toda a gente: aos avós, aos irmãos, aos amigos, às visitas, aos colegas da escola…
Mas os dias foram passando e a tão ansiada bicicleta não chegava! Os amiguitos da casa ao lado passavam as tardes a andar de bicicleta e Inês não podia acompanhá-los porque não sabia andar de bicicleta e porque não tinha uma. O pai dos meninos, como andava a ensinar o filho mais novo, ensinou-a também. Como a vontade de aprender era tanta, a menina, em apenas dois ou três dias, já se equilibrava em cima do velocípede! A sua satisfação aumentava de dia para dia e também as suas habilidades! Só a tão desejada bicicleta não chegava. Perguntava vezes sem conta à mãe quando é que teria a bicicleta e como de morasse muito, resignou-se a uma ideia – partilharia a bicicleta dos vizinhos!
Um dia chegou a casa muito entusiasmada. Alguém lhe oferecera uma bicicleta!
A mãe que conseguira juntar um dinheiro para a comprar, parou, confusa. Viu entrar, pelo portão, uma bicicleta na qual se poderia montar! O entusiasmo da pequena por ter realizado finalmente o seu sonho juntava-se uma certa apreensão: era tão grande que tinha medo de se desequilibrar e cair! Surgiu a ideia de baixar o selim, para que pudesse, mais facilmente, chegar aos pedais. Grande decepção! A pequena já não sabia o que haveria de pensar! Ao ver a decepção da filha mais nova, a mãe decidiu que, custasse o que custasse, lhe iria comprar a bicicleta no mês seguinte.
Para evitar sofrer com a situação, esqueceu-se da sua e concentrou-se nas brincadeiras e nos passeios partilhados na bicicleta emprestada dos vizinhos. Como o pai dos vizinhos do lado tinha comprado uma nova para o filho mais novo – tinha feito o mesmo há uns meses atrás, à filha mais velha – sobrava uma que era emprestada à Inês.
A mãe não sabia! Tinha tomado a decisão de realizar a sua ideia depois de ter visto a bicicleta oferecida! Uma noite, disse subitamente À filha mais nova:
- Inês, amanhã, a mãe vai pedir à mana e ao Teo para te comprarem a bicicleta. E tu vais com eles para escolheres.
A pequena, desta vez mais cautelosa, não reagiu com o entusiasmo anterior. Tinha medo da desilusão. Ficou parada a olhar para a mãe na dúvida.
- Vais mesmo comprar-me a bicicleta? – perguntou como se não tivesse compreendido bem o que a mãe acabara de dizer.
- Sim, Inês, vou comprar-te a bicicleta! – sublinhou.
- Quando?
- Quando vieres da escola!
A pequena, embora entusiasmada, continuava a reagir com cautela. Finalmente, desprendeu a sua alegria que, até ali, tinha refreado a custo.
- Que bom! Vou ter, finalmente, a minha bicicleta! – gritou alegremente acrescentando depois – e aquela que está na garagem, mãe?
- Fica para mim – esclareceu a mãe – Quando já estiver boa, vamos andar as duas de bicicleta!
Inês abraçou a mãe.
- És a melhor mãe do mundo! – gritou carinhosamente.
No dia seguinte, assim que acordou, os seus pensamentos voaram para aquele que seria o ponto alto do dia – a compra da bicicleta.
- É hoje que vamos comprar a minha bicicleta! – exclamou
- Sim, é. – retorquiu a mãe – Mas só à tarde quando regressares da escola e depois do Teo sair do emprego.
Inês foi muito feliz para a escola. Esteve inusitadamente alegre e comunicou a todos o motivo da sua felicidade: ia ter uma bicicleta do seu tamanho!
Chegada a tarde, o entusiasmo de Inês ia aumentando. Terminou os trabalhos de casa e brincou até à chegada da irmã que só chegava às oito horas da noite. Como estudava num liceu noutra cidade, e ia e voltava de comboio, partia sempre muito cedo e chegava tarde. Era a última a chegar a casa!
À medida que se aproximavam as oito horas, a impaciência aumentava assim a expectativa. Mas não dizia nada. Limitava-se a olhar para os desenhos-animados da televisão e a esperar. Quando a porta de entrada se abriu e uma voz alegre e já prevenida gritou “Cheguei!”, o entusiasmo foi enorme. Como Teo já tivesse chegado, rumaram os três para a grande superfície mais próxima no sentido de comprar a tão ambicionada bicicleta!
Chegaram uma hora depois com a pequena aos gritos lançando à brisa fria da noite que já comprara a sua bicicleta! E chegava aos pedais!
- Oh, mãe, assim que encarei com a bicicleta, percebi que era esta a ideal para ela! – comentava satisfeita a irmã mais velha de Inês.
A mãe agradeceu ao Téo que tinha de se despachar, pois a mãe estava à sua espera para jantar!
E, agora, a menina percorre o bairro todo encavalitada na sua pequena bicicleta, vivendo aventuras nos ares rasgados da sua velocidade. Na cabeça, o capacete próprio que pertenceu ao irmão mais velho!
. os meus blogs
. calmias