Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2008

O rapaz pobre

O vento forte pontapeava violentamente as folhas do jornal, que executavam verdadeiras acrobacias no ar. Uma delas chocou violentamente com a esguia figura triste de um rapaz, sentado em cima de um grosso tronco de árvore, completamente alheio ao que o rodeava. Afastou distraidamente a folha, que se manteve colada às suas pernas pela força do ar. Completamente alheado ao que se passava à sua volta, o rapaz jazia imerso nos seus pensamentos. Não era a sua roupa gasta ou o estômago vazio que o atormentavam. Já se habituara a isso. Também não era a solidão a que se votara, devido à incompreensão dos que o rodeavam. Não queria seguir o caminho dos outros, queria encontrar o seu. Começara por se aliar aos companheiros de brincadeiras, em busca da atenção, do apoio e do carinho que não só conhecera enquanto a mãe fora viva. Gostava de jogar à bola com os vizinhos da sua rua, verdadeiros craques da bola, mas que não encaixavam na sua maneira de pensar, sentir e agir. Eles já se haviam dado conta disso mesmo, pelo que não o aborreciam muito. A escola também não era uma grande ajuda. Sempre fora muito distraído e gostara pouco estudar para além do ambiente conflituoso da casa não lho permitir. Mal sabia ler e escrever, embora dominasse perfeitamente as contas simples. Como a folha continuasse a debater-se violentamente contra as suas pernas, o rapaz apanhou-a. Acariciou a folha com os seus tristes olhos castanhos. A fúria da natureza não se comparava minimamente com a guerra que se desenrolava no seu íntimo. O sofrimento estivera sempre presente na sua vida, acompanhando-o desde criança. A raiva desencadeava a revolta, que o levava a rebelar-se contra as imensas situações injustas que experimentara desde sempre e que o faziam fugir e bater com a porta, procurando ambientes mais leves, proporcionados pela vasta natureza que circundava o bairro onde vivia. Dava longos passeios, alheio aos olhares desconfiados, aos passos apressados e à multidão que o contornava, sem reparar nele, e contra a qual chocava ocasionalmente. Ansiava por locais isolados, longe da presença humana. O seu local favorito era a praia. Era ali que atirava a revolta à fúria das ondas, gritando a sua angústia e desespero, e, já mais calmo, procurava a paz que o terreno baldio, ainda despejado de cimento e betão, lhe proporcionava. No seu coração, habitualmente doce, a serenidade regressava algum tempo depois. Não tinha um local que pudesse considerar seu, uma vez que em nenhum encontrava um ambiente favorável, que lhe pudesse dar a segurança, a paz e o carinho que nunca conhecera, e sempre desejara. Estava saturado de injustas palavras duras, tentando inculcar na sua frágil alma defeitos que ele não possuía e ignorando os sentimentos que ele mais necessitava. O apoio encontrara-o sempre na figura esguia e encarquilhada do velho pescador que havia sucumbido à avançada idade. Nada mais lhe restava. Sentia-se desamparado. Não sabia como havia de continuar sem o seu carinho, o seu apoio e a sua amizade. Recordava ainda aquelas tardes quentes de verão, quando o encontrava debaixo da velha árvore, de cachimbo na boca, olhando esforçadamente o jornal amachucado, onde tentava progredir na leitura, juntando esforçadamente as sílabas, e tentando descortinar a manhosa palavra, que resistia à incursão do seu leitor. Ele sempre lhe realçara a necessidade de aprender a ler e a escrever, que encontrara na leitura ocasional do jornal, sempre atrasado no tempo, que lhe levava o filho que trabalhava num dos hotéis da cidade, um refúgio para as suas horas vazias. O ancião sempre realçara a importância da leitura, mesmo quando estava triste ou revoltado com a vida, sempre encontrando nela o refúgio necessário e querido. Ela conduzira-o, irresistivelmente, para mundos desconhecidos e belos, despertando nele sentimentos e ideias que, até ali, ele ignorara. Durante as horas que passava a ler, ele esquecia-se dos seus problemas. O rapaz olhara-o de soslaio, lançando depois um olhar avaliador àquelas folhas desconjuntadas de letra miudinha, que carregavam o mundo dentro delas. Como seria isso possível se os jornais traziam apenas a dor e os problemas do mundo ou falavam de assuntos tão específicos, com umas palavras tão difíceis e desconhecidas que o faziam desistir logo de seguida? Não, aquela não era leitura para ele. Partilhou o raciocínio com o velho ancião, em cujas mãos as largas folhas se agitavam como bandeiras ao vento, devido ao tremor do seu corpo. O velhote concordou com ele. Mas mostrou-lhe uma secção diferente das outras, que ele descobrira, havia pouco tempo, naquele jornal, onde todas as semanas, vinha uma estória publicada, que ele lia sofregamente e cuja continuação ele esperava todas as semanas. Mostrou-lhe o nome do jornal, que se destacava pela largura, o tamanho e a cor das suas letras, contrastando violentamente com as outras. O rapaz olhou desinteressadamente, registando o nome apenas na sua memória visual. Amava aquele ansião que descobrira um dia na praia, estando ele alvoroçado e acabrunhado como lhe sucedia frequentemente. O velhote, observador sensível, esperara o momento oportuno para entabular conversa. Começara com uma observação inteligente sobre o mar, que o fizera desviar a atenção das águas. Sentira-se atraído por aquela personagem que irradiava paz e calor. Entre conversas e ajudas, a amizade fora-se consolidando com o tempo. Desenvolvera-se entre eles uma confiança e um carinho como só duas almas isoladas e autênticas conseguem verdadeiramente atingir. Cada um trouxera algo ao outro. Agora, tudo terminara. Chegara um dia a sua casa a tempo de o ver sair, de maca, coberto pelo seu pijama de riscas azuis, a mão deformada pelo tempo, caída para fora do improvisado leito, parecia acenar num derradeiro adeus, indiferente ao rosto inexpressivo e ausente. Os adultos mal haviam dado conta do seu choque, dada a pressa com que agiam. Fora a última vez que o vira. A partir daí, a sua alma faminta, alimentava-se da recordação desses dias passados juntos, onde aprendera a aliviar a sua alma carregada.

  O rapaz voltou a folha que se agitava violentamente na sua mão. Procurou uma posição mais cómoda, onde o vento não lhe tentasse arrancar o jornal. Após várias tentativas, levantou-se e procurou outro local mais abrigado. Encontrou o esperado abrigo na curva da colina. Olhou com atenção a página. A sua memória visual ajudou-o a reconhecer o nome do periódico, só que em tamanho mais pequeno, sem qualquer destaque. A sua atenção redobrou quando se sentiu familiarizado com ele. Voltou a página. O seu olhar deparou com a secção preferida do querido ancião. O rapaz sentiu as lágrimas turvarem-lhe a vista. Sentiu uma onda de ternura percorrer a sua alma. Sentiu o aconchego na presença daquela folha que uma mão invisível transportara até ele. Começou a ler, esforçando-se à semelhança do seu velho amigo, por ligar as sílabas, voltando ao início da frase para poder ler já mais facilmente e descobrir o seu sentido. A magia das palavras encheu-lhe a alma. Sentiu-se transportado para um mundo mágico, onde a fantasia o fazia esquecer a sua rude vida diária. Esqueceu-se do tempo, mas para quem não tem para onde ir, o tempo não fazia qualquer diferença. A estória era curta o que o deixou desconcertado. Como descobriria agora o fim? Olhou para a data, mas não lhe valeu de muito. Ele não sabia o dia do mês. Teria de procurar ajuda. Levantou-se e caminhou contra o vento, na direcção do único restaurante onde encontrava jornais amontoados. Assim que entrou, dirigiu-se ao balcão perguntando qual era o dia do mês em que estavam. O homem, surpreendido, mostrou-lhe o mês e o dia no calendário enorme que cobria a parede de azulejo branco. O rapaz olhou atentamente e comparou com a do jornal. Pelas suas contas, aquele jornal era dessa semana. Alguém o deve ter lido e colocado nos recipientes de ferro, colados ao chão, de onde o vento o arrancara. Mostrou-o ao simpático senhor, que confirmou as suas suspeitas. Onde podia arranjar outro mais antigo? O senhor indicou-lhe um volumoso monte de jornais que jazia a um canto. Ao ver a sua indecisão, o senhor estimulou-o com um simpático “Vai lá!”, sorrindo-lhe curioso. O adolescente dirigiu-se a ele e começou afastá-los, até chegar àquele cuja data antecipava o exemplar que tinha na mão. Procurou a secção e começou a ler. Pelo desenho das letras, adivinhava-se que o título era o mesmo, e com um bocado de sorte seria o início da narrativa que tanto apreciara. Começou a juntar as sílabas naquele esforço já familiar, procurando sofregamente aquele ambiente de que já sentia saudades. A leitura avançava com a mesma dificuldade de sempre, fazendo-o regressar ao início de cada frase para saborear o sentido. Às vezes, demorava-se mais numa expressão ou noutra procurando deslindar o que o autor quereria dizer com ela. E como havia expressões bonitas! O rapaz deixava-se impregnar por aquele mundo fantástico, agradecendo, do fundo do coração, ao seu amigo que lhe ensinara o valor da leitura. Agora, só tinha de acompanhar a narrativa até ao final, ansiando pelo seu fim.

  O dono do bar-restaurante olhava-o com redobrada curiosidade. Oriundo de uma família com dificuldades financeiras e ambiente hostil, ele havia lutado muito para chegar até ali. Bom apreciador da natureza humana, ele gostara logo daquele jovem. Enquanto limpava os copos e os conduzia ao seu lugar, em cima de uma prateleira de madeira, com a boca virada para baixo, ele acompanhava o interesse do rapaz. A delicadeza com que tocara nos jornais, já gastos de tanta mão indiferente, mostrara-lhe que se tratava de um rapaz especial. Deixou-o ficar, não se importando com os clientes que entravam e saíam indicando-o com o queixo ou com a cabeça. O dono respondia simplesmente que se tratava de um jovem amigo. A partir dali, habituar-se-iam a vê-lo com regularidade, sempre de nariz enfiado nas letras escuras do jornal. O dono convidara-o a ler o jornal, que lhe oferecia, passada a semana. Se havia de ir para o lixo, ficava para ele, comentara alegremente. Sempre seria mais útil, confidenciara-lhe, e adivinhando que ele não teria local para o ler, convidou-o a visitá-lo todas as semanas. Aquele já ele poderia levar. Era uma oferta., sentenciou dirigindo-se aos jornais impecavelmente arrumados, e escolhendo aquele que ele estivera a ler. Com este já deveria ter a estória quase completa, não? Passou a vista pela secção visitada e depois por aquela que estava na mão do rapaz, concluindo que ele estava com sorte. Piscou-lhe o olho em sinal de cumplicidade. Podes vir quando quiseres. O rapaz agradeceu e arrastou os pés até casa, com os dois exemplares na mão. Não sabia bem porquê mas não sentia já tanta relutância em voltar a casa. Nem o seu quarto lhe parecia aquele local vazio só preenchido pelos gritos de raiva e a pancada do pai. Ele tinha algo que ninguém lhe poderia alguma vez tirar – as suas recordações e o mundo mágico imaginário da leitura – que lhe preenchiam a alma. Tal dissera o seu grande amigo, também a voz da leitura era amiga e ensinava. E havia que ter sempre atenção a isso. Como é que ele saberia? Ora, lendo a mensagem que cada estória contém e sentindo-a no seu coração. Eram essas mensagens que se traduziriam no homem que ele um dia se tornaria.

 

 

Fátima Nascimento 26/12/2008

 

publicado por fatimanascimento às 13:24
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Quinta-feira, 16 de Outubro de 2008

Inês e a lua

Inês andava fascinada com a lua. Olhava-a, naquelas noites de verão, lá no alto, destacando-se, muito redonda e luminosa, dos outros pequenos pontos brilhantes incrustados no veludo escuro do céu. Admirava as formas que se destacavam nela e que a luz realçava. Amava a lua e habituara-se à sua presença, noite após noite. Chamava-lhe amiga e conversava com ela. Abria o seu coração àquela imensa bola de luz branca que lhe fazia companhia sempre. Nunca faltara ao seu compromisso para com ela. Inês sabia instintivamente que podia confiar nela. Encostava-se ao muro da casa onde habitava e falava alto, na sua voz pura de criança. A lua, lá do alto, escutava atenta e maravilhada com as suas confidências. Já conhecia o mano mais velho da Inês, a mana do meio e a mãe, com quem vivia. À noite, a lua sempre esperava por notícias dela e da sua família. E, todas as noites, Inês lhe dava conta das suas tristezas e das suas alegrias. Ela já sabia quais eram os seus brinquedos favoritos, e o sítio onde gostava mais de brincar. Conhecia também a sua casa e o seu quarto. Quando Inês se deitava, ela inundava o quarto com a sua luz, para que ela a visse bem e sorria-lhe até ela adormecer. Uma vez adormecida, a lua vigiava os seus sonhos, iluminando-os com a sua luz mais pura. Era assim todas as noites. A lua e a Inês fundiam-se numa cumplicidade amigável que parecia não ter fim. Mesmo durante o dia, Inês esperava o momento nocturno em que podia ver a sua linda amiga e conversar livremente com ela. A hora preferida delas era aquela que se seguia ao jantar e, enquanto os irmãos e a mãe arrumavam a cozinha, ela saía para o pátio da sua casa, encostava-se ao gradeamento ou ao muro, de onde podia ver bem a sua amiga e lá começava ela a sua conversa. Era a sua amiga favorita, aquela que lhe dedicava toda a tenção que ela precisava e merecia durante aquelas noites. Os irmãos e a mãe observavam-na sem nada dizerem. O irmão, muito mais velho do que ela, admirava-se com a pureza daquela amizade. Comentava baixinho com a mãe aquela estranha amizade, mas a mãe proibira-o de lhe dizer fosse o que fosse. Aquele era o momento da sua irmãzinha, mesmo que ele não entendesse nada. O irmão respeitou, também avisado pela irmã do meio. Todas as noites, se repetia a mesma cena, já habitual para todos. Mesmo os vizinhos da casa ao lado, embora parassem e estranhassem, no início, acabaram por achar piada e sorriam à conversa da pequenita. Desta forma, Inês tinha toda a liberdade para aprofundar a sua amizade com a sua invulgar amiga.

   Um dia, o ar pareceu ficar suspenso e o céu encheu-se de nuvens cinzentas e ameaçadoras. Inês olhava o céu com apreensão à medida que as horas passavam no relógio da sala. Que dia estranho aquele! A temperatura descera e o ar estava fresco na rua. Do céu, caíam grossos pingos de chuva que se esborrachavam no chão, molhando tudo. Inês abria a porta e espreitava o céu. Uma súbita e intensa luz rasgou o céu, cegando-a momentaneamente, logo seguida de um som rouco e profundo que a fez estremecer. Sacudiu a cabeça e entrou em casa. Ela não gostava nada daquele dia e estava ansiosa que chegasse a noite para contar à sua amiga a terrível experiência por que acabava de passar.

   À hora do jantar, o irmão confidenciou à mãe:

   - Estou para ver como é que vai ser esta noite. Não há lua!

   A mãe observou a sua pequenina que aguardava o momento para ir ao encontro da sua amiga.

   - Eu falo com ela. – sossegou-o a mãe, murmurando baixinho e evitando que ela ouvisse.

   Inês continuava distraída. Logo que o jantar terminou, Inês afastou a cadeira da mesa e dirigiu-se ao pátio da casa. Olhou para o céu e esperou.

A mãe e os irmãos admiravam a sua paciência do lado de dentro da janela. Estava encostada ao gradeamento, só que permanecia calada. Ficou lá durante muito tempo. A mãe, ao ver que se demorava, foi até ela, devagarinho, para não a sobressaltar. Inês estava muito calada e não olhava para o céu. A sua cabeça, inclinada para a frente, era o reflexo do desânimo. A mãe sentiu uma grande compaixão para com aquele pequeno rosto triste. O seu cabelo escuro, encaracolado nas pontas, tapava-lhe o rosto de maçãs salientes, os rasgados olhos castanhos-escuros observavam insistentemente o chão, o queixo largo descaído e os lábios largos e finos abertos eram um retrato vivo e comovente. Dos olhos desciam largas estradas de água até ao queixo, impulsionadas por pequenas ondas salgadas.

   - Mãe, a lua não veio. Eu esperei por ela e ela não veio! – murmurou ela com voz entre cortada.

   A mãe voltou-a cuidadosamente para si, agachou-se e sentou-a nos seus joelhos.

   - Não, filha. Ela está ali em cima. – murmurou serenamente ao ouvido da pequenita. – Ela está sempre ali em cima!

   A pequenita abriu muito os olhos:

   - Como se eu não a vejo? – perguntou ela triste, inspeccionando o céu.

   - A lua está sempre lá, as nuvens é que não a deixam ver: tapam-na. A lua continua lá e estará sempre para ti. Ela também gosta muito de ti. Não te esqueceu. Ela é tua amiga! Uma amiga nunca esquece outra. Só as nuvens não permitem que vocês se vejam. Mesmo que tu não a vejas, e ela a ti, a lua sabe que tu estás aqui e que estás triste por não a ver. Também ela está triste. Mas podes falar com ela, que ela ouve. Depois, as nuvens vão-se embora e amanhã tu já a poderás ver. Não é porque tu não a vês que ela lá não está. Sempre que noites cheias de nuvens apareçam para vos afastar, tens de senti-la no teu coração e terás uma amiga sempre. E ela também. Agora vais dormir, e vais falar com ela na mesma que ela ouve e está ansiosa que lhe contes tudo!

   No rosto de Inês transpareceu um brilho que se assemelhava ao da sua amiga lua. Entrou em casa, vestiu o pijama e deitou-se a olhar o céu invulgarmente escuro, falando na sua voz pura de criança com a sua amiga lua, que esperava por ela atrás das nuvens. Falou serenamente na certeza que, quando acordasse, ela veria a sua amiga do coração. Afinal, tal como dissera a mãe, as nuvens não tinham vindo para sempre! 

 

 

Fátima Nascimento Outubro de 2008

 

publicado por fatimanascimento às 14:49
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