Sábado, 25 de Setembro de 2010

Inês e a bicicleta

Há muito tempo que Inês queria uma bicicleta. Pedia-a frequentemente à mãe. Como não tivesse muito dinheiro, a mãe dizia-lhe que, quando tivesse  menos despesas,  lhe compraria a bicicleta. Ficou entusiasmada. Falava da bicicleta que iria ter a toda a gente: aos avós, aos irmãos, aos amigos, às visitas, aos colegas da escola…

Mas os dias foram passando e a tão ansiada bicicleta não chegava! Os amiguitos da casa ao lado passavam as tardes a andar de bicicleta e Inês não podia acompanhá-los porque não sabia andar de bicicleta e porque não tinha uma. O pai dos meninos, como andava a ensinar o filho mais novo, ensinou-a também. Como a vontade de aprender era tanta, a menina, em apenas dois ou três dias, já se equilibrava em cima do velocípede! A sua satisfação aumentava de dia para dia e também as suas habilidades! Só a tão desejada bicicleta não chegava. Perguntava vezes sem conta à mãe quando é que teria a bicicleta e como de morasse muito, resignou-se a uma ideia – partilharia a bicicleta dos vizinhos!

Um dia chegou a casa muito entusiasmada. Alguém lhe oferecera uma bicicleta!

A mãe que conseguira juntar um dinheiro para a comprar, parou, confusa. Viu entrar, pelo portão, uma bicicleta na qual se poderia montar! O entusiasmo da pequena por ter realizado finalmente o seu sonho juntava-se uma certa apreensão: era tão grande que tinha medo de se desequilibrar e cair! Surgiu a ideia de baixar o selim, para que pudesse, mais facilmente, chegar aos pedais. Grande decepção! A pequena já não sabia o que haveria de pensar! Ao ver a decepção da filha mais nova, a mãe decidiu que, custasse o que custasse, lhe iria comprar a bicicleta no mês seguinte.

Para evitar sofrer com a situação, esqueceu-se da sua e concentrou-se nas brincadeiras e nos passeios partilhados na bicicleta emprestada dos vizinhos. Como o pai dos vizinhos do lado tinha comprado uma nova para o filho mais novo – tinha feito o mesmo há uns meses atrás, à filha mais velha – sobrava uma que era emprestada à Inês.

A mãe não sabia! Tinha tomado a decisão de realizar a sua ideia depois de ter visto a bicicleta oferecida! Uma noite, disse subitamente À filha mais nova:

- Inês, amanhã, a mãe vai pedir à mana e ao Teo para te comprarem a bicicleta. E tu vais com eles para escolheres.

A pequena, desta vez mais cautelosa, não reagiu com o entusiasmo anterior. Tinha medo da desilusão. Ficou parada a olhar para a mãe na dúvida.

- Vais mesmo comprar-me a bicicleta? – perguntou como se não tivesse compreendido bem o que a mãe acabara de dizer.

- Sim, Inês, vou comprar-te a bicicleta! – sublinhou.

- Quando?

- Quando vieres da escola!

A pequena, embora entusiasmada, continuava a reagir com cautela. Finalmente, desprendeu a sua alegria que, até ali, tinha refreado a custo.

- Que bom! Vou ter, finalmente, a minha bicicleta! – gritou alegremente acrescentando depois – e aquela que está na garagem, mãe?

- Fica para mim – esclareceu a mãe – Quando já estiver boa, vamos andar as duas de bicicleta!

Inês abraçou a mãe.

- És a melhor mãe do mundo! – gritou carinhosamente.

No dia seguinte, assim que acordou, os seus pensamentos voaram para aquele que seria o ponto alto do dia – a compra da bicicleta.

- É hoje que vamos comprar a minha bicicleta! – exclamou

- Sim, é. – retorquiu a mãe – Mas só à tarde quando regressares da escola e depois do Teo sair do emprego.

Inês foi muito feliz para a escola. Esteve inusitadamente alegre e comunicou a todos o motivo da sua felicidade: ia ter uma bicicleta do seu tamanho!

Chegada a tarde, o entusiasmo de Inês ia aumentando. Terminou os trabalhos de casa e brincou até à chegada da irmã que só chegava às oito horas da noite. Como estudava num liceu noutra cidade, e ia e voltava de comboio, partia sempre muito cedo e chegava tarde. Era a última a chegar a casa!

À medida que se aproximavam as oito horas, a impaciência aumentava assim a expectativa. Mas não dizia nada. Limitava-se a olhar para os desenhos-animados da televisão e a esperar. Quando a porta de entrada se abriu e uma voz alegre e já prevenida gritou “Cheguei!”, o entusiasmo foi enorme. Como Teo já tivesse chegado, rumaram os três para a grande superfície mais próxima no sentido de comprar a tão ambicionada bicicleta!

Chegaram uma hora depois com a pequena aos gritos lançando à brisa fria da noite que já comprara a sua bicicleta! E chegava aos pedais!

- Oh, mãe, assim que encarei com a bicicleta, percebi que era esta a ideal para ela! – comentava satisfeita a irmã mais velha de Inês.

A mãe agradeceu ao Téo que tinha de se despachar, pois a mãe estava à sua espera para jantar!

E, agora, a menina percorre o bairro todo encavalitada na sua pequena bicicleta, vivendo aventuras nos ares rasgados da sua velocidade. Na cabeça, o capacete próprio que pertenceu ao irmão mais velho!

publicado por fatimanascimento às 16:59
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Terça-feira, 14 de Setembro de 2010

Inês e o banho

Inês só tem sete anos, mas já toma banho sozinha. Foi uma decisão dela. A mãe compreendeu e incentivou essa decisão. Havia uma explicação para isso. A banheira tem duas portas de um material plástico branco opaco o que torna o espaço da banheira, durante o gelado Inverno, mais quentinho. E desde que entrava na banheira até que saía, Inês tremia de frio, variando entre o tom de pele normal e o tom arroxeado. E toda a família gozava desse privilégio, menos ela, porque estava dependente das mãos que, do lado de fora, a esfregavam. Assim, durante todo o banho a pequena criatura tremia o que a fazia detestar o banho. A pequena que, na praia, não abandonava a água, detestava aqueles momentos incómodos, frios e desconfortáveis. Era muito desagradável! Só estava bem com a torneira da água quente aberta. O vapor de água matinha o ambiente tolerável. E era uma tormenta, sempre que tinha de fechar a torneira. O frio envolvia-a como uma capa fria. Todo o seu corpo tremia! Nem quase se conseguia mexer! Enquanto era pequenina, limitava-se a tremer. À medida que foi crescendo, foi-se queixando baixinho do frio. E esse momento começava logo no momento em que começava a despir a roupa. O seu rosto fechava-se antecipando o medo do frio que a iria agarrar o seu corpo com as suas desagradáveis garras frias. Começava a mostrar indícios de ansiedade num choro contrariado. O que poderia ser um prazer, era, para ela, um autêntico suplício. Detestava as horas do banho! A mãe explicou-lhe que, deixando a porta de correr, que protegia a banheira dos exteriores olhares indiscretos e das incomodativas mãos frias que a esfregavam à pressa para evitar o prolongamento aqueles momentos torturosos, aberta tornava o banho mais frio. Isto deu-lhe que pensar. Por um lado, gostava da atenção que lhe dispensava a família na hora do banho, por outro, aquela temperatura baixa, tornava tudo desagradável. Para a consolar, a mãe deixava-a ficar, durante uns segundos, com o chuveiro da água quente ligado enquanto ia buscar o toalhão enorme onde a enrolava. Eram os momentos mais agradáveis daquele acto de higiene tão agradável e, ao mesmo tempo, tão desagradável! Como a electricidade está muito cara, evitava-se ligar os aparelhos de aquecimento para não aumentar a factura trimestral, que era sempre elevada, e evitar o golpe final de ter de indemnizar a companhia de electricidade por descuidos, durante o Inverno. Uma vez a mãe vira-se obrigada a repartir a factura por três meses, tal era a quantia! Descobriu-se que o irmão, muito friorento, acabava por dormir com termoventilador ligado no quarto dele! Inês nunca vira a mãe tão zangada. Toda a família a fazer sacrifícios e ele que não queria saber de nada! Não podia ser! As mulheres da casa não ligavam qualquer aparelho d aquecimento suportando corajosamente o frio. A partir daquele momento, ele começou a ter mais cuidado!

Uma noite, enquanto a mãe a vestia, depois de a encorajar, a tirar a toalha quentinha que a cobria toda à excepção da ponta do nariz e dos olhos, afirmando que, assim que vestisse a camisola interior, se sentiria quentinha, aquiesceu e trocou o pesado tecido pela camisola interior grossa de algodão branca. Depois de enfiar o corpo no pijama e no robe e os pés nas meias grossas, sentiu-se mais animada. Só faltava o cabelo! A mãe agarrou no secador de cabelo e na escova e logo o calor consolou a pequena alma. Após uns instantes, de cabelo seco e solto, Inês mirava-se no espelho da cómoda com satisfação: cheirava bem e estava muito bonita.

Voltou-se subitamente para a mãe que arrumava todos os objectos utilizados:

- Mãe, a partir de agora tomo banho sozinha! – declarou contente com a decisão tomada.

- Muito bem! – concordou a mãe que já lhe ensinara tudo a respeito dos banhos – Assim terás menos frio!

E deu-lhe um abraço enquanto exclamava orgulhosa e baixinho:

- A minha menina está a ficar crescida!

E assim foi. A partir daquela noite, Inês passou a tratar de si e as horas frias e desagradáveis tornaram-se muito felizes. Molhava-se, lavava a cabeça com champô, tirava a espuma com água, e colocava o amaciador. Lavava o corpo com gel e, depois, retirava a espuma com água e, de seguida, o amaciador que lhe empastava os longos cabelos castanhos. Sorriu satisfeita à toalha que esperava a um canto seguro da banheira. Enrolou-se nela, limpou-se e saiu cautelosamente evitando tropeçar. Daí a uns minutos, estava pronta a secar o cabelo. Para grande surpresa da mãe, escolheu secar o cabelo também. Afinal, aquela estava doente e teria de se desembaraçar. Entrou minutos depois no quarto da mãe: estava linda! Olhou-se orgulhosamente no espelho. Conseguira! Livrara-se dos banhos gelados e da impaciência da irmã mais velha que, chegada a casa, se encarregava, muitas vezes, de lhe dar banho enquanto a mãe preparava o jantar! E passou a gostar da hora do banho de tal maneira que muitas vezes se esquecia de fechar a torneira!

- Inês, estás a gastar muita água. Não pode ser! –repreendia-a docemente a mãe.

E contou-lhe a história da água que estava a ficar doente com a sujidade e que não tinha outra para a substituir uma vez que cada vez, com a subida da temperatura do planeta, choveria menos.

Inês escutou a história com os olhos presos nos da mãe.

- Então não posso deixar a torneira muito tempo aberta, para poder poupar a água!

A mãe sorriu:

- É isso mesmo! – exclamou a mãe sorrindo – És uma menina muito inteligente!

E quase sempre cumpriu!

publicado por fatimanascimento às 02:17
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